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               O gosto da população serrana e a alegria das suas mesas, resultam de uma interação histórica entre a gastronomia dos diferentes povos que se estabeleceram na região. Assim como as etnias souberam conviver pacificamente, sua Herança Cultural também não ensejou conflitos maiores, especialmente a arte culinária que reina até hoje, saborosamente em todas as cozinhas da Serra Gaúcha. 

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               Já a antiga "Sede dos atiradores" de Nova Petrópolis, o popular "Schützenvereiss" é o exemplo vivo da integração culinária através dos tempos. Suas paredes velustas ainda recendem aos odores característicos de tantas receitas gostosas que um dia encantaram os comensais. Ainda grandes chapas dispostas em ângulo reto, formando o primeiro "atar" ao bem viver, onde pontificavam solenemente as vovós imigrantes com suas colheres de pau. Era uma sopa gostosa aqui, recebendo sua última ração de noz moscada. A grande caçarola acolá, onde os pedaços de galinha caipira iam assumindo a coloração de ouro vermelho, refogado no próprio molho. Mais adiante o panelão das batatas a cozinhar furiosamente. Num enorme latão, especialmente fabricado pelo funileiro da aldeia, que também era o maestro da banda, a água fervente ia recebendo a "massa-feita-em-casa", cortada em fatias largas. Enquanto isso o velho forno de tijolos regurgitava os gordos assados de porco e gado, numa época feliz sem colesterol. Um perfume inebriante despendia-se do velho forno, seduzindo a todos os que pudesse atingir. Era o tradicional "Kerb-essen" o "Almoço de Grupo"!

 

               Os anos foram passando, novas etnias foram chegando com as suas culturas e receitas culinárias. Não existe alemão, por mais obstinado que seja, capaz de resistir as sutis artimanhas das velhas nonas vindas da Itália, capazes de operar verdadeiros milagres na cozinha...

 

               E assim o velho casarão dos atiradores veio conhecer as receitas típicas dos imigrantes italianos. Como também já tomara conhecimento das "feijoadas brasileiras", do "churrasco gaúcho", do "arroz de carreteiro", etc. E o mundo dos doces também foi enriquecido pela contribuição de todos os povos que se aventuraram para estas bandas.

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               Hoje, estas delícias convivem naturalmente disputando as preferências dos comensais, seduzindo-os com o pedaço da gula, cujo castigo mais imediato são uns "quilinhos a mais".

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               Como já vem acontecendo a mais de um século, os encontros no casarão dos atiradores acabou levando os comensais a filosofar... sobre a vida e as coisas boas que ela pode oferecer:

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         1º  A ordem e a tranquilidade de uma casa alemã

         2º As delicias da comida dos italianos

         3º A despreocupação da vida de um brasileiro

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         Podemos ter tudo facilmente aqui na Serra!

         Porque se lamentar?

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Renato Urbano Seibt

        historiador